quinta-feira, 8 de maio de 2008

PORQUÊ? PORQUÊ? PORQUÊ???

Mas quando é que isto acaba?
Já não basta ter ficado sem os dois ao mesmo tempo, tê-los perdido tão prematuramente e de forma tão violenta...e agora nem um luto "normal" posso fazer?!
Só queria ter paz e deixá-los descansar em paz...
Quando as coisa pareciam estar a acalmar, a vida a começar a seguir lentamente o seu rumo...mais uma facada??!!!
Sempre tentei combater a tendência para reproduzir aquele instante...afastar de mim aquele momento e a forma como terá ocorrido. Não, não quero imaginar o que aconteceu, o que eles pensaram ou sentiram, é demasiado cruel...
Agora, não só me vejo obrigada a reviver tudo isto, como ainda tenho de colaborar na descoberta de respostas quando até das perguntas sempre fugi. Sempre evitei sequer perguntar e agora...tenho de responder. Será que não percebem que não consigo racionalizar aquele momento, que quando tento imaginar o que aconteceu apenas me vem à cabeça o seu sofrimento, angustia, aflição?!
Não sei, não sei. Felizmente não vi e o destino não mais me deixou falar com eles...
Fujo a 7 pés daquele momento para me conseguir manter de pé...
5 horas! 5 horas naquela casa a ouvi-los fazer perguntas, a ouvi-los remexer móveis como se aquilo fosse um armazém. A sentir-me violada nos sentimentos, nas memórias, no íntimo, no pessoal, naquilo que é nosso. A vê-los espalhar pelo chão aquilo que tanto me esforcei para tirar do alcance da vista...Não percebem a dor de um filho em ver os objectos mais simples dos pais falecidos?! Ainda por cima espalhados como lixo...e pior...queimados?
E ainda queriam que não tivesse-mos mexido em nada!!?? Pois...está bem...
Não percebem que só de ver a roupa, os óculos, difícil é afastar a ideia de como não terá ficado ela??!! E ainda perguntam???? Toma a fotografia, isto é a minha mãe, será sempre isto para mim, mais nada!!
Ás vezes penso que não vou aguentar...apetece-me desistir...
Mas quando é que isto acaba??
Ás vezes penso que vou ouvir "prova superada"....mas não, lá vem mais uma e outra.
Nunca antes me perguntei "porquê". Não me julgo melhor que ninguém para achar que isto devesse ter acontecido a outra família que não a minha. Mas agora...apetece-me gritar até ficar rouca "porquê" "porquê" "porquê", porque é que isto não pára???
Deixem-me chorá-los, recordá-los como eram, lindos...não quero mais ouvir como ela ficou, como ele morreu, autópsia isto, bombeiros aquilo...
Não quero, não posso!
É desumano!
Ontem chorei de noite como há muito não acontecia, tive pesadelos, acordei com a sensação desagradável que há muito não sentia e a qual não me faz falta.
Bolas...era preciso esperar tanto tempo?
Quando é que a burocracia se torna mais sensível, quando é que as altas patentes irão perceber que aquilo que para eles são números para nós é a nossa vida?
Há coisas que não entendo...
Ontem, faltou-me o sono mas também as forças para me levantar...
Ontem revivi tudo, como se ao início voltasse...
Mas agora não há choque a proteger o raciocínio,
só dor e uma vertiginosa saudade.

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