sábado, 21 de junho de 2008

Sonhos

Primeiro foi com ela, depois com ele e, por último, com os dois.

3 sonhos diferentes no cenário, semelhantes na essência.

De repente ela estava viva. Tudo tinha acontecido igual...o acidente, a morte...mas, um ressuscitar aconteceu.
Não era uma segunda oportunidade, porque alguém me dizia no sonho "sabes que isto é temporário, é só por uns dois meses, depois começam os problemas renais, hepáticos...e ela vai outra vez.
No entanto, ao mesmo tempo, parecia haver a possibilidade dela sobreviver. Era uma incógnita se morria novamente ou sobrevivia como se nada tivesse acontecido.
O mais estranho, é que eu estava incrédula. Imensamente feliz, mas incrédula. Porque olhava para ela e ela movia-se de um lado para o outro, sem parar (também, quantas vezes terei eu visto a minha mãe sentada??!!). Fazia bolos, comida, cirandava. Sorria. Toda ela! Alheia a tudo o que se passava. Acho que ela sabia que ia morrer, no sonho, mas comportava-se como se isso não tivesse a menor importância para o dia que decorria. Nesse sonho, o meu pai estava vivo...

Depois foi a vez dele. Tudo igual. O acidente, a morte da minha mãe e depois a dele. Mas aqui, a morte vs vida não era uma incógnita. Ele ia passar uma prova. Se vencesse, ficava cá. E lá estava ele, vestido qual cavaleiro, pronto para a luta. Não sei se venceu o combate....mas sei que não o vi tão feliz como a minha mãe.... Nesse sonho, a minha mãe não estava viva.

Depois foi com os dois. Não me recordo neste sonho. Sei apenas que novamente tudo tinha acontecido, mas eles tinham voltado...havendo a possibilidade de partirem novamente...

Já pensei e repensei estes sonhos, na verdade que eles contêm, no que significam.
Acho que os dois meses do sonho com a minha mãe, foram os dois dias...sempre acreditei que ela não morresse...o amor não responde a percentagens médicas. E não podia imaginá-la de outra forma que não fosse a viver o dia a dia, sem pensar no amanha.
Com o meu pai...a luta que ele travou...o meu medo do resultado...a minha incapacidade de o imaginar feliz sem a minha mãe.

Os dois vivos juntos....simplesmente O sonho...

A verdade, é que se dessem a oportunidade de os ter junto de mim outra vez, ainda que soubesse que era por pouco tempo e que teria de passar por tudo outra vez, eu aceitava. Nada de mau do que me aconteceu supera a vida imensamente feliz que eles me deram a seu lado.

Por outro lado, penso muitas vezes em como seria o meu hoje, se o meu pai tivesse ficado. Por mais casais que eu veja ficarem sem o seu amado(a), por mais que eu conhecesse a força do meu pai...não consigo conceber a sua existência sem a minha mãe. Por vezes imagino-o sozinho naquela casa, o seu dia a dia sem em ela e não concebo essa possibilidade. Amo o meu monhezinho com todos os poros do meu ser, e a única coisa que se pode sobrepor a minha vontade de o ter junto de mim, é a sua felicidade. A minha pela dele. Não sei como iria aguentar vê-lo na sua profunda tristeza. Acho que o que sinto, não se compara ao que ele iria sentir...e ao que eu sentiria por o ver assim.

Depois...cheguei a outra conclusão. O facto de terem partido os dois, não me deixa sentir a plenitude da dor por cada um. Se imagino o meu pai vivo, sinto a dor da perca da minha mãe numa intensidade superior...porque me concentro nela.

Toda a minha vida pensei que iria ficar primeiro sem pai...e agora, em nenhum sonho imagino a minha mãe viva e o meu pai ausente....porque sei que o que mudou a minha vida foi aquele dia 20...foi aí que morreu a vida que eu conhecia, acontecesse o que acontecesse depois.

Antes perturbavam-me estes sonhos...porque acordava e via o vazio da ausência com o amargo na boca de não poder abraçar os pensamentos.

Agora desejo sonhar...sei criar a minha realidade paralela, em que dou forma ao sentimento e materializo recordações. Encho o meu balão de memória e subo alto. Fugindo ao peso da saudade, tenho um lugar só meu, onde vejo, sinto e toco. E quando a vigília me chama e eu desço de novo ao físico, sei intimamente que a a realidade não é só razão, o sonho tem lugar, e será sempre uma mentirosa verdade, que de tempos a tempos, eu e vocês, estamos à distância de um olhar.

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