domingo, 13 de abril de 2008

Nem Todos os Dias são Dias de Chorar




Hoje faz um mês que o meu pai partiu.

Fui à pouco à praia lançar flores ao mar.

Não rumo ao cemitério pois ele não está lá. Está em todo o lado e em todas as coisa que me fazem sentir viva.
Como homenagem e sem esforço, não me apeteceu chorar. Dei mesmo por mim a sorrir.

Escolho sempre o mar..busco na linha do horizonte a presença deles, pois é o mais longe que o meu olhar alcança, na esperança de aí os ver. E vejo-os. No azul, no manto de espuma encavalitado nas ondas...

Deitei-me e deixei-me ficar a ouvir o embalar encantador das ondas a desfazerem-se na areia, naquela melodia divina e calmante, aquele poder sereno que só o mar sabe ter.

Fiquei assim, não sei quanto tempo, a ouvi-Lo (ao meu pai) agradecer-me em cada desterrar das ondas.

A envolver-me com o vento num abraço.

Passa um miúdo e apanha uma das flores (a giribéria amarela) que retornou timidamente à praia.

Apeteceu-me correr para ele e gritar-lhe que a deixasse. Não o fiz. Ele largou-a. Espetou-a na areia e ela ali ficou.

Fortemente erguida, resistindo ás ondas e ao vento. Dançava para lá e pra cá. Fiquei a olhá-la assim, muito tempo.

Passou uma gaivota em torno dela e desviei o olhar, seguindo-a no seu planar magnifico de gaivota pelo azul celeste. Ouvi a memoria dizer "voa, Fernão Capelo, voa, o mais alto que quiseres, não importa o que o bando diz" e apeteceu-me pedir-lhe pra me levar por um bocadinho bem acima, aí onde tu estás.

Em vez disso olhei novamente para a flor. Lá estava, firme.

Um pensamento louco varreu-me então o pensamento. Pensei que eras tu. Senti que por mais que o mar se entenda de ausência para o longe do horizonte, há sempre uma presença viva na nossa praia. Resistindo ás intempéries do tempo e do espaço. Sempre ali. Para nós.

Olhei á volta , como que acordando de uma transe. E vi, toda a vida, que continua.

É altura de ir. Lá está a flor, imponente. Levanto-me e vou buscá-la. Esta é para mim. Obrigada pai.

Um último olhar sorrido para o mar, de frente, não olho para trás. Despeço-me do mar, até á próxima, cheiro a flor (igual a tantas que me ofereceste) e sinto a certeza que jamais te direi Adeus.

1 comentário:

Marta disse...

Fiquei sem palavras ao ler as tuas...esse momento mágico, essa flor, a gaivota, a criança, as ondas...tudo se conjugou...foi ele, foi o Rui...sei que foi! Que te quis mostrar o quanto a vida é bela...e o quanto um momento simples pode estar tão cheio de beleza...e isso transmitiu-te paz. É assim que eles, Isabel e Rui, te querem! Como uma flor, serena, cheia de cor...e muito amor!