quarta-feira, 16 de abril de 2008

Mãe é Mãe


Havia uma coisa que a minha mãe sempre tentou combater em mim. A minha tendência para sofrer por antecipação. Na realidade, ela tinha razão...Se bem que é uma das coisas que sinto mudar em mim, a verdade é q n consigo deixar de pensar na próxima 6f...o dia do aniversário dela.
Não deixo de pensar que este dia devia ser diferente do que vai ser, devia ser igual a tantos outros que já o foram..e n se vão repetir. Nada vai ser igual, nunca mais. E isso assusta, mt. Dói, ainda mais.
Há dores q n sei escrever..e por isso, nem tento.
Hoje deixo o texto que escrevi na dor da percepção da tua ausência.

Mais não consigo.




Hoje acordei novamente com a repetição matinal da verdade que tem perturbado o meu acordar dia após dia nas últimas 3 semanas.
Normalmente é essa a pior altura. A vida lembra-me, naquele momento preciso de lusco-fusco da alma que não sabe bem o q é, a verdade da minha nova realidade, como se fosse a 1ª vez, dia após dia, a sensação de vazio repetida.
O levantar relança o sangue que dá peq almoço à energia, renovada de memórias apetecidas.
Hoje foi diferente...
Uma sensação desagradável teima em permanecer e não me deixa ofuscá-la.
Hoje percebi, dura e impiedosamente, o significado da frase "Mãe é Mãe".
Penso no que terás sentido no preciso momento em que cortaram o cordão umbilical que a ti me unia. Um momento de alegria em que te separam fisicamente do teu fruto apetecido e percebes, de certeza, que nada nem ninguém pode quebrar essa ligação.
Não me lembro desse dia...só sei o que senti, hoje, pela 1ª vez.
O destino, sem assépsia, nem hemostase, sem um colo onde me entregar, enfiou a mão no meu ser e esventrou-me. Sentia arrancar-me o cordão físico q os unia.
Apetece-me gritar para que alguém me devolva ao teu útero, me pouse no teu colo e me deixe ai ficar. Quero voltar a olhar-te e a perder-me nessa imensidão de certezas entre mãe e filha. Quero as mãos que curam, a voz q canta ao coração, o sorriso divino que tira qualquer dor.
Dói, doí tanto que a alma chora sangue. Sufoca, aperta, fere.
É, na verdade indescritível.
Luto contra esta sensação no meio dos soluços secos e silenciosos que se apoderaram de mim. Nem as lágrimas se mostram capazes de reflectir esta dor e, envergonhadas, recusam-se a assumir um papel do qual sabem n estar á altura.
Procuro desesperada o ar q n tenho, a força que n sinto, abro a janela e espero o que não vai chegar. Não encontro com o olhar aquilo q a alma busca. O vento empurra para dentro de mim a verdade desse cordão que jamais se cortará. Sei-o, mamã. Sinto-o de cada vez que acordo e me sinto tua filha.
Sei que serás sempre a minha mãe mas...hoje pela 1ª vez senti-me órfã...
E isso n sei dizer
(03/04/20008)

3 comentários:

Marta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marta disse...

Amiga, palavras não tenho...sinto um vazio, uma dor...ofereço-te as palavras do Carlos Drummond de Andrade, esse poeta maravilhoso... e que verdade que ele carrega nestas palavras...

Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

(Carlos Drummond de Andrade)

...
Neste momento apetece-me dizer uma unica coisa:
Obrigada Isabel...muito muito obrigada, por tudo...pela amiga que me deste.