segunda-feira, 6 de abril de 2009

Alentejo da Minha Alma


Era cedo

Suave a lânguida preguiça que se roçava no meu corpo

De olhos semi-cerrados percorria as linhas da aguarela que se desenhava diante de mim

A voz do poeta perscrutava a minha memória e eu cantava com ele

Alentejo da minha alma

Adiante, a planície com sede de Primavera estendia-se para lá do meu olhar

No horizonte um azul tão cálido como quente, abraçava-a num fim que não acontecia

Como se não houvesse limite para toda a beleza que aflorava naquela manhã amena

Como um ciclo que se repete, nunca igual, a Natureza impunha-se perante tudo o que é artificial

E eu fiquei, só, sem me sentir sozinha, agradecendo-lhe baixinho por me deixar fazer parte dela

Alentejo da minha alma

Dissolvi-me no momento como quem encontra o seu lugar

Estendi-me na certeza de fazer parte do que agora encontrei

E fiquei, eu e o meu Alentejo, neste namoro natural

Repito este encontro de cada vez que a noite teima em não acabar em mim

Vou vê-lo amanhecer para que a manhã amanheça também em mim

Alentejo da minha alma

Dou-me à brisa como ao colo de uma mãe

Corro sem me mexer pelos vales intermináveis da beleza que esta terra pare a cada dia

E sinto em mim todas as certezas que não encontro nos prédios e nos carros da metrópole

Sou um espírito livre que segue nas costas do gado que se arrasta pela erva que o alimenta

Sou as asas das garças que mutualizam comigo esta comunhão

Aqui sou, tudo o que posso ser

E quando me despeço, nunca lhe digo adeus

Este quadro mora em mim para além daquilo que posso ver

É aqui que me irei plantar, na esperança que quando ninguém me puder regar

A chuva cessará a minha sede de querer sempre e sempre te contemplar

Alentejo da minha alma

Meu lugar